Como ser um melhor paciente – e obter melhores cuidados de saúde

O Dr. Miguel Stanley, fundador e director clínico da White Clinic, escreveu um artigo revelador que se concentra no lado do paciente na relação médico-paciente. Afirma que “a bondade, a abertura e a colaboração não são apenas características agradáveis de se ter —fazem parte do tratamento”, e ser um bom paciente é algo que, quer os médicos, quer os pacientes devem ter em mente, pois isso influencia os cuidados prestados.

Após 25 anos de prática clínica, há uma verdade que se tornou muito clara para mim: os bons cuidados de saúde são uma parceria.

Os bons cuidados de saúde são uma parceria.

Falamos frequentemente sobre como os médicos, os dentistas e as clínicas podem melhorar, mas raramente questionamos o outro lado da equação: o que é que significa ser um bom paciente?

Não se trata de culpar – trata-se de reconhecer que a relação médico-paciente funciona melhor quando ambas as partes contribuem. Quando cada pessoa compreende o seu papel, os cuidados tornam-se mais fáceis, a confiança aumenta mais rapidamente e os resultados melhoram.

O meu Ikigai na medicina dentária

Há pouco tempo, revisitei a filosofia japonesa do ikigai – a ideia de encontrar um objectivo e um equilíbrio na vida. Para mim, a medicina dentária nunca foi simplesmente gerir uma clínica lucrativa. O meu objectivo – o meu ikigai – é criar um ambiente onde o stress é baixo, a confiança é elevada e o trabalho que fazemos muda verdadeiramente a vida dos pacientes.

Isto significa garantir que a minha equipa e eu levamos a melhor versão de nós próprios para cada consulta. Mas também significa ajudar os pacientes a compreenderem o quanto a sua própria abordagem pode influenciar os seus cuidados.

A ciência por trás disto

Não se trata apenas da minha opinião. A meta-análise de 2014 na PLOS ONE analisou 13 ensaios clínicos aleatórios e concluiu que uma relação positiva e de confiança entre o paciente e o médico melhora significativamente os resultados em termos de saúde, especialmente em casos crónicos e complexos.

Por outras palavras: a bondade, a abertura e a colaboração não são apenas agradáveis de ter – fazem parte do tratamento.

Os pacientes não são todos iguais

Os pacientes vêm de todos os estratos sociais, e essas diferenças afectam os cuidados de saúde de forma real:

  • Ricos vs. com dificuldades financeiras
  • Educado vs. mal informado
  • Mente aberta vs. resistência
  • Saudável vs. doente crónico
  • Calmo vs. ansioso
  • Local vs. longa distância
  • Educado vs. mal-educado
  • Transparente vs. evasivo
  • Respeitoso vs. arrogante
  • Confiável vs. não confiável

Não se trata de juízos de valor – são realidades. A forma como um paciente comunica, ouve e participa pode tornar o tratamento colaborativo e fácil… ou tenso e difícil.

E isto não tem nada a ver com os desafios que o caso clínico em si possa apresentar. Alguns casos podem ser fáceis de resolver para o médico, mas devido ao carácter complexo do paciente, o caso torna-se imediatamente mais difícil.

Um paciente educado, pontual, honesto e que confie no processo terá quase sempre uma melhor experiência, mesmo que o caso clínico seja mais difícil – não porque seja favorecido, mas porque uma boa comunicação gera melhores cuidados.

Porque é que a conexão é importante

Na prática privada, nem todos os pacientes são adequados para todas as clínicas. Não se trata de arrogância, mas sim de proteger o ambiente que permite a prestação dos cuidados de saúde.

Os cuidados de saúde não são um balcão de fast-food. É uma parceria baseada na confiança, no respeito e na responsabilidade mútua. E tal como os pacientes podem escolher o seu médico, os médicos também têm a responsabilidade de escolher os pacientes que melhor podem servir.

Dez dicas para a sua primeira consulta

Se quer tirar o máximo partido dos seus cuidados, estas sugestões podem ajudar:

1. Encare a primeira consulta como uma conversa, não como uma transação.

Trata-se de compreender as suas necessidades e criar confiança, e não apenas de obter um preço.

2. Evita pedir preços detalhados por telefone.

Cada caso é diferente – o custo depende da complexidade, do tempo e do risco.

3. Traga os seus exames para a consulta, em vez de enviar longos e-mails com antecedência.

O contexto é importante e podemos discuti-los adequadamente frente a frente.

4. Fale abertamente sobre qualquer problema médico ou psicológico.

Só podemos adaptar o tratamento se soubermos com o que está a lidar.

5. Mantenha a mente aberta durante a consulta.

A medicina evolui constantemente – o que leu online pode já estar desactualizado.

6. Deixe as frustrações do passado à porta.

Se já teve más experiências, vamos começar de novo.

7. Não comece com críticas a outro prestador de cuidados de saúde.

Queremos concentrar-nos nas suas necessidades e não em julgar o trabalho de outra pessoa.

8. Aprenda um pouco sobre o seu médico antes da consulta.

Ler uma pequena biografia ou um CV é um sinal de respeito pela pessoa que o vai tratar. Procure também informar-se sobre a clínica ou o hospital e sobre o seu historial e valores.

9. Fale por si próprio se for um adulto.

Não há problema em ter um companheiro ou familiar presente, mas a sua voz e as suas escolhas devem liderar a discussão, a menos que haja uma razão médica para o contrário.

10. Evite comparar-nos com o preço ou as promessas de outro médico.

Se confia mais noutro prestador de serviços, escolha-o – mas se está aqui, vamos concentrar-nos no seu plano de tratamento.

Além disso, sempre que possível, evite trazer grandes grupos para a sua consulta. Compreendemos que os cuidados infantis podem ser um desafio, mas chegar com várias crianças ou familiares pode criar distracções desnecessárias e stress, quer para a equipa clínica, quer para os outros pacientes. Quando não for possível e tiver de trazer mais familiares para o apoiar, telefone com antecedência e avise a equipa.

Da mesma forma, tenha em atenção os odores fortes – como perfume intenso ou fumo de tabaco persistente – e tenha cuidado com a sua higiene pessoal. Os cuidados dentários e médicos requerem um contacto próximo e uma presença fresca e neutra ajuda a garantir uma experiência mais confortável para todos.

No fundo, o objectivo é criar um ambiente em que o seu médico e a equipa estejam totalmente concentrados em si e genuinamente ansiosos por o receber de volta.

Responsabilidade partilhada

Os bons cuidados de saúde não acontecem isoladamente. O seu médico pode trazer competências, tecnologia e anos de experiência – mas a energia que o paciente traz para o consultório também é importante.

Quando tanto o paciente como o prestador de cuidados de saúde aparecem preparados, respeitosos e dispostos a colaborar, a relação torna-se uma verdadeira parceria. E é nessa altura que os resultados – para ambas as partes – são os melhores.

Se está à procura de melhores cuidados, traga o seu melhor. Nós faremos o mesmo.

*Publicado originalmente no LinkedIn.

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