O Dr. Miguel Stanley, médico dentista, fundador e diretor clínico da White Clinic, é um dos médicos dentistas portugueses com mais palestras e conferências internacionais. Ser palestrante fora de portas é, para si, uma honra e orgulho, por ver que o esforço diário no investimento profissional e na sua clínica é recompensado.
Dr. Miguel, é um dos médicos dentistas portugueses com mais palestras e conferências internacionais. O que tem contribuído para este sucesso fora de Portugal? Por que é que o procuram tanto?
É verdade. Há já um histórico longo de quase 20 anos a palestrar. A minha primeira conferência internacional foi em 2004. Felizmente, tenho o privilégio de ter relações com algumas das organizações líderes no mundo, que procuram sempre trazer alguma inovação e algum entretenimento aos seus eventos e que gostam sempre de ter speakers como eu, com muita experiência e que apostam na inovação constante. Acredito que o sucesso reside, principalmente, aqui: sou reconhecido mundialmente, assim como a minha clínica, pela inovação e contribuição para o futuro da medicina dentária.
Outro aspecto importante é o facto de eu não vender nada. Quando vou dar uma conferência não vou lá para vender, vou lá para inspirar, para passar o meu testemunho real. E isso é o mais importante. Eu não vendo cursos, não vendo livros, não tenho ações em nenhuma empresa e isso é um ponto-chave.
Para além disso, acho que a razão pela qual sou sempre convidado é porque faço as coisas com ética, faço as coisas bem feitas, acabo as minhas palestras a horas (risos) e procuro alinhar as minhas palestras com as dos outros palestrantes. Faço questão sempre de fazer o meu trabalho de casa e perceber quem são os outros palestrantes, para tentar criar um fio condutor entre as palestras, porque as palestras não são só para dar informação, servem também para inspirar, entreter e dinamizar. Portanto, tem de haver algum storytelling. E as pessoas têm de sentir que valeu a pena pagar o bilhete, viajar até o evento, porque saíram de lá com uma memória e acredito que isso tem acontecido nas minhas palestras. E basta ver que estou consistentemente nos eventos internacionais há 20 anos. Acho que é uma obra e tenho muito orgulho nisso.
Falou no sucesso da sua clínica. Considera então que no estrangeiro veem isso? Reconhecem a White Clinic como uma clínica inovadora e de vanguarda?
Claramente. Aliás, as minhas palestras têm que ver com aquilo que fazemos diariamente na White Clinic. Sempre que sou convidado tenho uma base sólida de evidências clínicas, de novas tecnologias testadas que funcionam.
Os organizadores dos eventos têm de pagar e procuram sempre ter a certeza de que este investimento é seguro. Geralmente, fazem entrevistas prévias a organizações e aos seus líderes e perguntam qual é o feedback sobre essas organizações. E sinto-me bem por saber que o feedback à minha clínica e à minha equipa é consistente e tem sido sempre positivo. Faço um enorme investimento diário em mim, na minha equipa, e na minha clínica para que possamos estar na vanguarda e para que possamos exercer a melhor medicina dentária. Procuramos documentar todos os protocolos inovadores que fazemos na White Clinic, fundamentados na ciência e na evidência clínica.
Trabalhamos com os nossos parceiros na indústria para ter a certeza de que, cada vez que vamos dar uma conferência, apresentamos algo verdadeiro e fundamentado, sem pensar em marketing, mas sim na evidência clínica. E o que é que isso significa? A White Clinic é um laboratório do futuro. Não é apenas uma clínica dentária e tem sido parte da minha visão desde que criei a clínica, em 1999, ter sempre a melhor versão da medicina dentária. Tem sido um grande sacrifício e um grande investimento, mas sinto-me orgulhoso por saber que valeu e vale a pena. Todos os anos investimos em pessoas, em novas técnicas, tecnologias e materiais, e estamos muito atentos àquilo que vai entrar no mercado. Procuramos estar sempre na vanguarda da medicina dentária, talvez por isso, sejamos um centro dentário líder no mundo e muito reconhecido. Nesse sentido, é fácil escolher a White Clinic como exemplo.
Curiosamente, em Portugal participa em poucos eventos. Pode-se estabelecer aqui alguma comparação entre Portugal e outros países?
Sim, é verdade. E aproveito para dizer que adorava participar mais em eventos portugueses e dar aulas em faculdades portuguesas. Estou aberto a qualquer convite para o fazer. Agora com 52 anos de idade, gostava de poder ajudar mais e contribuir mais com aquilo que tenho aprendido lá fora, cá em Portugal. Isso sim, é um grande sonho meu, poder contribuir mais para a medicina dentária portuguesa. Mas, realmente, acho que Portugal é um case study. Temos alguns dos dentistas mais incríveis do mundo.
Há uma nova geração de colegas com 35, 40 anos de idade a fazerem coisas incríveis e temos alguns séniores que estão desde sempre a contribuir para o impacto da medicina dentária a nível global. Acredito que é um mercado incrivelmente agressivo e difícil. Temos uma população com pouco acesso à medicina dentária e em contrapartida temos um mercado incrivelmente concorrencial. Temos um mercado bastante difícil e o futuro da medicina dentária portuguesa é também difícil. Algo tem de mudar. Temos a entrada dos grandes grupos, que pode ser uma coisa muito positiva para colmatar um pouco a falta de acesso das famílias à medicina dentária, mas o facto é que Portugal não é um país rico e a medicina dentária é cara. E há uma incrível concorrência no mercado laboral em Portugal. Além disso, há muitos médicos dentistas para a dimensão do país. Essa é também uma diferença comparativamente ao estrangeiro.
Contudo, e falando especificamente sobre a pouca participação em eventos portugueses, não tenho uma explicação para isso.
Com base na sua vasta experiência internacional, que conselhos gostaria de dar aos jovens médicos dentistas portugueses para terem uma carreira reconhecida como a sua internacionalmente?
Acima de tudo, não tenham pressa. A carreira de medicina dentária não é um antes e depois no Instagram. É o paciente que, dez anos depois, ainda continua a ser nosso paciente. Tenho anos suficientes para saber que a longevidade nesta profissão se prende pela ética, responsabilidade, conhecimento científico e permanente estudo.
Talvez as pessoas não saibam, mas o facto de estar nestes eventos internacionais há 20 anos faz com que, por ano, eu tenha uma média de 150 horas de formação contínua. Para além de ter o privilégio de ser palestrante, ainda tenho a sorte de conseguir completar a minha formação.
E esse é um dos conselhos mais importantes que posso dar. Um médico dentista tem de estar sempre a aprender, tem de ter a humildade para reconhecer que a informação nova deve ser testada e implementada, desde que seja fundamentada na biologia e na ciência. E para isso, é necessário ter formação e fazer sacrifícios. Há muita gente que acha que é giro ser speaker internacional, mas para que isso aconteça é necessário fazer muitos sacrifícios, e isso é muito cansativo. É necessária muita preparação, despender muitas horas de viagem… Portanto, acho que não é para todos. A pessoa deve ter uma base sólida para se aventurar nestas questões.
Tenho a felicidade de trabalhar com muitos colegas da minha clínica, alguns há mais de 22 anos, que estão comigo todos os dias e estão a sustentar o forte. Portanto, quando viajo, tenho a máquina bem oleada aqui a trabalhar. Não estou a fazer um sacrifício assim tão grande, porque a máquina está bem estruturada.
Isto para explicar que aqueles que querem fazer uma carreira internacional não têm de pedir autorização a ninguém para o fazer. Devem apenas encontrar algo que os apaixone, ter paciência e trabalhar muito. Não se pode comprar o acesso a este universo. Devem fazer as coisas com intuito, com propósito, com ética e com consistência, acima de tudo. E digo-vos: se forem consistentemente bem-educados, estruturados, informativos, simpáticos — que também é preciso — tenho a certeza de que a vossa mensagem passará. Se forem consistentes, se a vossa mensagem for interessante, mais cedo ou mais tarde vão encontrar o vosso nicho e vingar. Preparem-se para ser criticados, para terem muita concorrência, mas acima de tudo batalhem e não desistam! Se quiserem algumas dicas, podem entrar em contacto comigo. Tenho o maior prazer em ajudar.
E para os colegas que já têm muitos anos de profissão, que mensagem deixaria?
Falando agora para os que já estão há muito neste mercado tão concorrencial da indústria da medicina dentária portuguesa, digo que precisamos de baixar um pouco as nossas reservas, de sermos menos competitivos uns com os outros, porque todos nós estamos a tentar fazer a mesma coisa, que é impulsionar a medicina dentária portuguesa. E isso não se faz com barreiras, faz-se com sinergias, com partilha.
Nesse sentido, deve haver menos concorrência entre universidades, menos concorrência entre marcas, menos concorrência entre clínicas. Ponham na cabeça que estamos aqui todos para o mesmo. Todos temos os mesmos problemas, os mesmos desafios, e é na partilha que se ganha, não na concorrência. Temos o dever de ajudar a nossa comunidade, servir os nossos pacientes e contribuir para a medicina dentária portuguesa todos juntos.
*Originalmente publicado na Dental Tribune Portugal.