Medicina Dentária 3.0: Porque é que a “Medicina Dentária de Revisão” é a próxima fronteira na saúde oral e sistémica

Na White Clinic, há mais de duas décadas que ligamos os pontos entre o impacto da saúde oral na saúde geral, e o potencial impacto sistémico da medicina dentária de má qualidade ou desactualizada é outro elo crucial quando se trata do bem-estar de todo o corpo. O nosso fundador e director clínico, Dr. Miguel Stanley, escreveu um artigo muito interessante precisamente sobre o tema Medicina Dentária de Revisão.

O impacto negligenciado de um tratamento dentário desactualizado

Na medicina, é amplamente aceite que os implantes e tratamentos médicos desactualizados requerem revisão ao longo do tempo. No entanto, em medicina dentária, as restaurações antigas – sejam elas obturações metálicas, coroas envelhecidas ou dentes tratados com canais radiculares – raramente são revistas, a não ser que se partam. Este descuido pode ter consequências profundas, contribuindo para a inflamação crónica, doenças sistémicas e deterioração geral da saúde.

Os implantes médicos e as próteses não foram concebidos para durar toda a vida. Por exemplo, a duração média de uma prótese da anca é de cerca de 15 a 20 anos, os implantes mamários têm de ser substituídos num prazo de 10 a 15 anos, e um pacemaker cardíaco dura cerca de 5 a 15 anos antes de ser necessário proceder a uma revisão. Mesmo os transplantes de córnea duram apenas 10 a 15 anos antes de se deteriorarem. Estes exemplos ilustram que o corpo humano muda com o tempo, tal como os materiais que nele implantamos.

O campo emergente daquilo a que gosto de chamar “Medicina Dentária de Revisão” visa colmatar esta lacuna. Apela a uma reavaliação regular do trabalho dentário existente para identificar potenciais fontes ocultas de inflamação, toxicidade e carga bacteriana associadas aos tratamentos, e não apenas aos dentes e gengivas, que possam estar a afectar a saúde geral. Esta abordagem proactiva alinha-se com os avanços da medicina integrativa e preventiva, em que a detecção e intervenção precoces são fundamentais para optimizar o bem-estar a longo prazo.

A ligação entre a saúde oral e a inflamação sistémica

A ligação entre a saúde oral e a saúde sistémica está bem documentada, com a doença periodontal ligada a doenças cardiovasculares, diabetes e certos tipos de cancro. No entanto, o debate tem ignorado em grande medida a forma como os materiais dentários desactualizados e os tratamentos antigos mal-executados podem estar a conduzir a uma inflamação crónica e a contribuir para condições como doenças autoimunes, problemas neurológicos e disfunção metabólica.

A desconexão entre médicos e dentistas, combinada com o facto de muitos destes problemas não causarem dor ou inflamação visível, e a ideia errada e generalizada de que um tratamento dentário dura para sempre, criou uma lacuna crítica nos cuidados de saúde – uma lacuna que deixa os pacientes vulneráveis a riscos de saúde crónicos e silenciosos.

Além disso, alguns tratamentos dentários podem degradar-se com o tempo, libertando substâncias nocivas para o organismo. Adicionalmente, os canais radiculares tratados incorrectamente podem albergar bactérias residuais, formando infecções crónicas de baixo grau que sobrecarregam silenciosamente o sistema imunitário e que podem permanecer ocultas durante décadas.

Exemplos de riscos negligenciados incluem:

  • Hipersensibilidade aos metais – Muitos pacientes reagem inconscientemente às ligas de titânio, ao mercúrio e ao níquel presentes no trabalho dentário, desencadeando respostas inflamatórias sistémicas.
  • Galvanização oral – A presença de metais diferentes na boca pode criar microcorrentes, perturbando a função mitocondrial e afectando potencialmente a saúde neurológica.
  • Implantes e enxertos ósseos contaminados – Estudos revelaram que muitos dos implantes disponíveis no mercado contêm impurezas na superfície, enquanto alguns materiais de enxerto não são rigorosamente testados quanto à sua imunogenicidade.
  • Infecções silenciosas – As imagens de CBCT e a análise microbiana revelam que muitos canais radiculares “bem-sucedidos” abrigam biofilmes bacterianos que podem contribuir para a doença sistémica. É importante notar que um canal radicular bem executado, efectuado segundo o protocolo padrão de ouro, incluindo a utilização de instrumentos esterilizados, é um tratamento muito válido. O problema reside quando se facilita, quando se utilizam materiais de qualidade inferior ou quando o tratamento não é executado correctamente.

Porque é que a Medicina Dentária de Revisão é essencial

Os pacientes assumem que o seu tratamento dentário é permanente, mas nada na medicina dentária dura para sempre. Os materiais degradam-se, as restaurações falham e novos estudos revelam que muitas técnicas do passado eram executadas sem os conhecimentos que temos agora sobre biocompatibilidade, controlo de infecções e saúde sistémica.

Na cirurgia ortopédica, as substituições de articulações são rotineiramente reavaliadas e substituídas quando necessário – então porque é que a medicina dentária não adopta a mesma abordagem?

A Medicina Dentária de Revisão propõe:

  • Uma avaliação regular de restaurações antigas para detectar sinais de corrosão, fugas e infiltração bacteriana.
  • A utilização de diagnósticos avançados, como imagens 3D CBCT, testes de biomarcadores salivares e marcadores de inflamação sistémica (como CCL5/RANTES e CRP).
  • Protocolos melhorados para a substituição de tratamentos dentários falidos por materiais biocompatíveis que minimizem a toxicidade e a resposta imunitária.
  • Maior colaboração entre dentistas, médicos e profissionais de medicina funcional para garantir que a saúde oral é integrada nos cuidados de saúde gerais.

Os próximos passos: um apelo à acção para a indústria dentária

O desafio da implementação da Medicina Dentária de Revisão reside na consciencialização, acessibilidade e educação. Muitos pacientes (e mesmo alguns dentistas) não estão conscientes dos riscos a longo prazo dos materiais dentários desactualizados. Além disso, as seguradoras classificam frequentemente os procedimentos de revisão como electivos ou cosméticos, deixando os pacientes com os encargos financeiros. Para mudar esta situação, precisamos de:

  • Educar os pacientes sobre a importância da reavaliação regular dos tratamentos dentários.
  • Protocolos de diagnóstico normalizados para detectar restaurações falidas antes que estas causem problemas de saúde sistémicos.
  • Insistir na cobertura pelo seguro das revisões dentárias necessárias do ponto de vista médico.
  • Formação e investigação alargadas sobre a relação entre os materiais orais, a inflamação e as doenças crónicas.

O futuro da medicina dentária é integrativo e proactivo

A Medicina Dentária de Revisão é mais do que um conceito novo – é uma evolução necessária na forma como abordamos os cuidados de saúde oral. Ao reconhecer as implicações sistémicas de um tratamento dentário desactualizado, podemos alterar a medicina dentária de um modelo reactivo para um modelo proactivo, prevenindo a doença em vez de apenas tratar os sintomas.

Se é um dentista, considere a possibilidade de incorporar testes de biocompatibilidade, imagens de CBCT e marcadores de saúde sistémica nas suas avaliações. Se é um paciente, pergunte ao seu dentista sobre a longevidade e segurança dos seus tratamentos dentários existentes – porque o que está na sua boca afecta todo o corpo.

O futuro da medicina dentária não tem apenas a ver com estética ou função – tem a ver com a saúde de todo o corpo. Chegou a altura da Medicina Dentária de Revisão.

*Escrito pelo Dr. Miguel Stanley.

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